Autoconsciência e desempenho profissional

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Autoconsciência e desempenho profissional

Na Era da Informação, o conhecimento e a informação são instrumentos básicos de sobrevivência social e organizacional.

Este facto é tanto mais evidente quando abordamos o desempenho e sucesso profissionais, a gestão de carreira e a qualidade de vida em contexto organizacional.

 

Se muito se debate e se salienta a importância do conhecimento sobre o mundo exterior ao “Eu”, outro tanto não acontece com o conhecimento sobre o próprio “Eu” – Autoconsciência (AC).

 

Em contexto organizacional, a evidência tem sugerido que os líderes com elevados níveis de AC têm um desempenho de liderança mais adequado a contextos complexos e exercem-na segundo modelos mais eficazes e promotores do desenvolvimento das equipas. O desenvolvimento em contexto organizacional exige frequentemente o recurso a técnicas de influência. Uma das estratégias de influência mais poderosas em contexto organizacional é a gestão de impressões, que assenta no conhecimento do impacto que a presença do “Eu” produz nos outros.

 

As pressões no desempenho são também vivenciadas de forma diferente pelos colaboradores com diferentes níveis de AC, sendo que baixos níveis tornam os indivíduos mais suscetíveis à rutura sob pressão.

 

Diversos fatores moderam a relação entre AC e criatividade, nomeadamente as expetativas de desempenho futuro e perceção de capacidade de melhoria.

 

A AC apresenta também aspetos com impacto negativo na eficácia adaptativa dos indivíduos, nomeadamente a redução de motivação intrínseca, a inibição da ação, ansiedade social e pensamento ruminativo. É possível contorná-los promovendo a reflexividade sobre os padrões utilizados para a comparação social e a prática de autocuidado psicológico.

Porque sem fundações não teremos o Edifício!

 

 

O objeto da autoconsciência – poder

 

Não existam dúvidas!

 

Ao falarmos de autoconhecimento e autoconsciência, falamos de devolver poder ao agente do comportamento, ao “Eu”.

 

O poder de, mediante o conhecimento das preferências próprias (comportamentos, sistemas de valores, perfil de personalidade), tomar decisões estratégicas conscientes sobre os cursos de ação mais eficazes, articulando-os com uma análise ajustada da envolvente ao comportamento, e adaptando-o.

 

O “Eu” deixa de ser uma vítima da pressão da envolvente, para ser agente ativo na construção do caminho por ele escolhido.

 

A autoconsciência estabelece-se como ponte entre o “Eu”, o outro e o mundo e ao invés de levarmos a cabo análise psicoterapêutica às dinâmicas intrapsíquicas do indivíduo, importa potenciar o acesso ao seu portfolio de competências, capacidades e preferências, mediante o recurso a um conjunto de ferramentas práticas, que poderá utilizar autonomamente.

 

O trabalho de construção da autoconsciência e de adaptação comportamental, permite ao indivíduo encontrar um equilíbrio dinâmico e adaptativo entre atribuição externa ou interna de poder e controlo sobre os eventos de vida.

 

Como tal, constitui-se como um processo contínuo de desenvolvimento.

 

Um ato de coragem e persistência

 

O exercício de auto-consciencialização é um ato de coragem: ao olhar para si, o “Eu” pode confrontar-se com vulnerabilidades, sombras, aspetos socialmente menos desejáveis, pontos cegos. Na senda de uma intervenção positiva e otimista, esse ecossistema pessoal é a melhor solução do momento para a negociação “Eu”, “Outro”, Mundo, mas não é a única. O desenvolvimento da autoconsciência permite encontrar outras soluções, novos sistemas de equilíbrio, mas eficazes e libertadores do potencial.

 

Os eixos de análise da autoconsciência habitualmente medidos são: aspetos privados / públicos; características aplicadas adaptativas e menos adaptativas e experiências presentes e passadas. E as dimensões a analisar no que se refere às características são inúmeras (emoções, estilos de comunicação, crenças, atitudes, intenções, traços de personalidade, etc.).

 

Porquê perseverar neste esforço contínuo?

Os corolários da atenção focada no “Eu” produzem impacto significativo na qualidade de vida do indivíduo, e são: processo de autoavaliação; precisão do autoconceito; autorregulação; sentido de ser agente ativo (sense of agency); capacidade de previsão do comportamento dos outros (Theory of Mind); autoestima e autoeficácia; emoções específicas de autoconsciência (culpa, vergonha, orgulho); diálogos internos.

 

Autoconsciência – neuropsicologia e desenvolvimento ao longo da vida

 

As neurociências têm evidenciado o envolvimento de diversas estruturas corticais na construção de uma rede neural especificamente envolvida no pensamento autorreferencial e que pode ser reforçada através de atividades de desenvolvimento de autoconsciência, que reforçam a ligação entre as diversas regiões cerebrais envolvidas (neocórtex, sistema límbico e gânglios basais).

 

O substrato neural da autoconsciência é evidente no seu desenvolvimento ontogénico, com diferentes fases, desde a autoconsciência implícita até à meta autoconsciência, a corresponderem ao crescimento e maturação de diferentes zonas cerebrais

 

Para retratar de forma abrangente o fenómeno de autoconsciência é, contudo, crítico articular os componentes neuro cognitivos com o contexto socio ecológico, num modelo congruente.

 

O desenvolvimento da autoconsciência é indissociável da sua avaliação, e se algumas técnicas parecem mais claramente ancoradas na avaliação (técnicas de auto reporte, questionários, avaliação 360º, coaching), outras envolvem simultaneamente avaliação e desenvolvimento (janela de Johari, análise SWOT, storytelling pessoal, diários, etc.).

 

 

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Artigo da autoria de:
Fátima Rodrigues

Doutorada em Psicologia Social e Organizacional pelo IUL-ISCTE, licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, exerce a sua atividade como Assessora de Administração em Empresa líder de mercado no setor do Long Term Care, e como Professora Auxiliar na Universidade Lusófona, tendo anteriormente ocupado funções de especialista em Gestão de Pessoas na Direção de Recursos Humanos de Instituição Financeira, lecionado na Universidade Europeia na área de Gestão de Recursos Humanos / Psicologia e no Instituto Piaget na área de Psicologia Social, e participado em projetos nacionais e internacionais de consultoria nas áreas de Recrutamento / Seleção e Formação. Coordenou e redigiu capítulo no livro Desafios da Globalização Gestão de Recursos Humanos, editado pela Escolar Editora. Possui Pós-Graduações em Economia Social e Psicogeriatria. Possui o título de Especialista em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações atribuído pela OPP.

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